quarta-feira, 27 de abril de 2011

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao percorrer uma longa pesquisa acerca da trajetória da Literatura Brasileira, podemos observar que grande parte dos nossos literatos foram, na sua grande maioria, juristas formados pelas três mais antigas faculdades brasileiras de Direito ou, em alguns casos, não concluíram os estudos na área jurídica.
Este trabalho tem como proposta, mostrar através desse catálogo, recuperar a memória jurídica e literária, dos escritores do século XIX e início de XX, mostrando que os primeiros formandos em Direito no Brasil, aliaram as atividades literária aos estudos jurídicos. Mostrou-se ao longo deste catálogo, uma breve antologia a título de ilustração das mais variadas fases da nossa literatura, sendo que os textos poderão ser explorados pelo professor de literatura ou o trabalho com as biografias dos autores poderá ser realizado pelo Professor de História na escola, onde proporciona ao leitor dados de ordem bibliográfica, além de uma breve avaliação estética sob a ótica de Massaud Moisés.
Portanto, trata-se de um trabalho que pode ser utilizado como apreensão da nossa literatura, e de suas mais variadas mudanças e tendências ao longo da formação literária brasileira.



INTRODUÇÃO

CATÁLOGO DE REFERÊNCIA: LITERATOS-JURISTAS DE FINS DO SÉCULO XIX/INÍCIO DO SÉCULO XX*

Profa. Dra. Luciana Nascimento-PPGL-CELA/UFAC

Até a chegada da Família Real no Brasil, a educação brasileira era quase que exclusivamente religiosa, na senda dos Jesuítas. Entretanto, com a chegada da Família Real no Brasil, houve uma grande mudança nos paradigmas educacionais de nosso país, com a criação das primeiras escolas de nível superior, tais como a Escola de Cirurgia da Bahia e com a diferença de alguns meses, criou-se a Escola de Medicina do Rio de Rio de Janeiro. Posteriormente, foram criadas as primeiras Faculdades de Direito: São Paulo e Olinda. As primeiras faculdades de Direito surgidas no Brasil foram institucionalizadas pela aprovação do projeto de 31 de Agosto de 1826 – convertido em lei em 11 de Agosto de 1827 – que primava pela instalação de dois centros dedicados ao estudo jurídico em nosso país.  
Dessa forma, São Paulo e Olinda foram às localidades escolhidas para abrigar esta nova vanguarda no ensino, devido principalmente à situação geográfica – uma para atender o sul e outra para suprir as necessidades dos habitantes do norte do Brasil. André Rebouças, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Barão do Rio Branco são exemplos importantes da elite cultural brasileira do império, formada nesses cursos jurídicos.
A idéia de implantar no país institutos de educação superior em Direito veio primordialmente da lógica que marcou a independência do Brasil junto a Portugal, em 1822, de autonomia nacional, de construção de uma identidade como tal, e de formar aqui uma “intelligentsia” (SHWARCZ, 1993.p.141) própria. Em busca de nova lei e consciência, pretendia-se formar uma elite intelectual independente das escolas portuguesas e francesas.  Alguns anos depois foram criadas duas Faculdades de Direito no Rio de Janeiro: a Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e a Faculdade Livre de Direito, sendo que a tradicional Faculdade Nacional de Direito da UFRJ é fruto de uma fusão, em 1920. A criação da Faculdade Nacional de Direito na primeira metade do século XX por meio da fusão das Faculdades já mencionadas representou, na visão de Alberto Venâncio, uma quebra do monopólio do ensino jurídico, que até o final do século XIX concentrava-se no eixo Olinda - São Paulo, o que contribuiu para o fortalecimento do pluralismo do ensino jurídico no País.
Ressaltamos que a Faculdade Nacional de Direito integrou, juntamente com a Escola Politécnica e a Faculdade de Medicina da Praia Vermelha a nova universidade, denominada de “Universidade do Brasil” pelo Decreto-lei n. 8.393 de 1945.
Conforme pode ser observado, ao longo da História da Literatura Brasileira, muitos de nossos literatos foram juristas formados, quer seja pelas Faculdades do Recife, de São Paulo ou nas Faculdades Livres do Rio de Janeiro, quer seja, em Portugal, na Faculdade de Coimbra, (a qual representou uma linha de tradição na cultura brasileira, anterior à fundação de nossas faculdades jurídicas). A formação em Direito de certos literatos, sem dúvida, influenciou suas obras, cujo tema extrapola nossa proposta de trabalho, no momento, pois nossa proposta consiste na formação de um catálogo acerca da memória jurídica e literária. Explicitamos, será uma memória jurídica, porque vamos relembrar as iniciativas dos juristas pioneiros e também literários porque vamos nos remeter aos escritores do século XIX e início do século XX, época de consolidação da literatura brasileira.
Tal proposta torna-se um instrumento importante para a fixação da memória cultural do país, até mesmo porque em nossos estudos no curso de Letras Português, (na qualidade de acadêmica), tivemos a oportunidade de verificar que houve um grande poder por parte dos juristas, o que fica bem claro no discurso do paraninfo da turma de 1900: “O Brasil depende exclusivamente de nós e está em nossas mãos. (...)” (Apud. SHWARCZ, 1993, p. 150).  Tal discurso reflete bem o poder dos juristas, conforme nos ensina Michel Foucault, em sua Microfísica do Poder (1997), os juristas junto com os médicos. A atuação dos juristas ia desde a literatura, passado pelo ensino das disciplinas de Língua Portuguesa, Latim, Literatura ao jornalismo, incluindo a atividade política.
Consta aqui uma lista de importantes nomes da literatura brasileira que tiveram passagem por essas universidades, concluindo o curso ou não, mas que contribuíram na formação cultural do nosso país de diversas formas, como críticos, romancistas, jornalistas ou poetas. Logo mais, apresento também de uma breve biografia, histórico profissional, e bibliografia.
Alphonsus de Guimaraens - poeta simbolista, Álvares de Azevedo (faleceu antes de concluir) - poeta ultra-romântico de inspiração byroniana, Antônio de Alcântara Machado - jornalista e escritor modernista da 1ª fase , foi autor de Brás, Bexiga e Barra Funda, Augusto de Lima - poeta, Bernardo Guimarães - escritor romântico, autor de A Escrava Isaura, Castro Alves - poeta condoreirista, defensor do abolicionismo, Fagundes Varela - poeta ultra-romântico, Guilherme de Almeida - poeta modernista, , Inglês de Sousa - escritor naturalista, compôs Contos Amazônicos, José de Alencar - maior representante do romance romântico brasileiro, autor de clássicos como O Guarani, Iracema, Senhora etc. José Bonifácio de Andrada e Silva, Patriarca da Independência, poeta pré-romântico, Monteiro Lobato - escritor pré-modernista e criador de obras infanto-juvenis como Sítio do Pica Pau Amarelo, Olavo Bilac (não concluiu) - poeta parnasiano, considerado o "príncipe dos poetas", Pedro Luís Pereira de Sousa Gama- poeta condoreirista, Raimundo Correia - poeta parnasiano, Raul Pompéia - escritor realista/naturalista, autor de O Ateneu.


* Produto final do Projeto de Extensão CATÁLOGO DE REFERÊNCIA: LITERATOS-JURISTAS DE FINS SÉCULO XIX/INÍCIO DO SÉCULO XX, contemplado com financiamento no Edital PIBEX 01/2010-PROEX-Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Acre.

ROMANTISMO

OS LITERATOS JURISTAS AO LONGO DOS TEMPOS: 200 ANOS

Adriana Alves de Lima - Bolsista PIBEX/UFAC
Acadêmica do Curso de Letras da UFAC


A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira metade do século XIX, introduziram-se em 1836, graças ao livro Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, e à revista Niterói, fundada pelo mesmo, Porto Alegre e Torres Homem; e perdurou até 1881, quando o surgimento dO Mulato, de Aluísio Azevedo, deu início à reforma realista e naturalista em nossas letras. Durante quatro decênios, imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época). Três os momentos percorridos pela metamorfose romântica: 1) correspondente ao período de implantação e definição do novo credo cultural; representam-no, afora os nomes citados, Gonçalves Dias, na poesia, Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar, na prosa, e Martins Pena, no teatro; 2) em que se instala a moda byroniana em poesia, com Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, e em que aparecem os ficcionistas Bernardo Guimarães e Manuel Antônio de Almeida; e 3) equivalente às últimas décadas da época, em que se presencia a gestação do Realismo e, portanto, o desmoronar do Romantismo, com Castro Alves, na Poesia, e Visconde de Taunay, na prosa.
Dos autores citados acima, nos interessa aqui, somente aqueles na qual tiveram formação em Direito, e que posteriormente se dedicaram a Literatura, nesse período temos:

ÁLVARES DE AZEVEDO


Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro, 1852). Matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1848, mas faleceu quatro anos depois e não chegou a concluir o curso. Um ano após sua morte, suas poesias foram reunidas e publicadas no volume Poesias.

§  Bibliografia:

- 1853: Poesias de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (contém “Lira dos Vinte Anos”, a sua única obra preparada para publicação).
- 1855: Macário;
- 1855: Obras de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (com a publicação de sua prosa “Noite na Taverna”).
- 1866: O conde Lopo. Todas as obras do poeta foram publicadas postumamente.


Itália

I

Lá na terra da vida e dos amores,
Eu podia viver inda um momento;
Adormecer ao sol da primavera
Sobre o colo das virgens de Sorrento!

Eu podia viver – e porventura
Nos luares do amor amar a vida;
Dilatar-se minh’alma como o seio
Do pálido Romeu na despedida!

Eu podia na sombra dos amores
Tremer num beijo o coração sedento:
Nos seios da donzela delirante
Eu podia viver inda um momento!

Ó Anjo de meu Deus! se nos meus sonhos
Não mentia o reflexo da ventura,
E se Deus me fadou nesta existência
Um instante de enlevo e de ternura,

Lá entre os Laranjais, entre os loureiros,
Lá onde a noite seu aroma espalha
Nas longas praias onde o mar suspira,
Minha alma exalarei no céu da Itália! (...)

II

A Itália! Sempre a Itália delirante!
E os ardentes saraus, e as noites belas!
A Itália do prazer, do amor insano,
Do sonho fervoroso das donzelas!

E a gôndola sombria resvalando
Cheia de amor, de cânticos, de flores,
E a vaga que suspira à meia-noite
Embalando o mistério dos amores!

Ama-te o sol, ó terra de harmonia,
Do Levante na brisa te perfumas:
Nas praias de ventura e primavera
Vai o mar estender seu véu d’escumas!

Vai a lua sedenta e vagabunda
O teu berço banhar na luz saudosa,
As tuas noites estrelar de sonhos
E beijar-te na fronte vaporosa! (...)


Se Eu Morresse Amanhã!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
       Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
       Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
      Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudece ao menos
       Se eu morresse amanhã!

ESTÉTICA

Álvares de Azevedo foi um dos poetas do Ultra-Romantismo brasileiro. Leitor de Byron, Musset, Goethe, sua obra poética está fortemente marcada pela fértil imaginação e pela inteligência. Apesar da morte precoce (faleceu com vinte anos), produziu uma vasta e importante obra. A crítica sempre o considerou como um romântico exaltado, seus escritos colocam à mostra uma sensibilidade aguda, um sofrimento profundo. Todas as características românticas apareceram de forma ampliada. O sonho e a imaginação são levados às últimas conseqüências. O crítico Antonio Candido diz sobre o poeta: “... o sonho é nele tão forte quanto à realidade; os mundos imaginários, tão atuantes quanto o mundo concreto; e a fantasia se torna experiência mais viva que a experiência, podendo causar tanto sofrimento quanto ela”.
A angústia e a dúvida habitavam a cabeça do poeta. Muitos o chamavam de “poeta da dúvida”, “poeta da melancolia”, “poeta da solidão”, etc. Todas essas designações podem ser dadas a ele, mas a dúvida é uma constante nos seus poemas, principalmente em “Se eu morresse amanhã”.

BERNARDO GUIMARÃES


Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (Ouro Preto, 1825 – Ouro Preto, 1884). Estudou Humanidades na sua terra natal, e Direito em São Paulo. Exerceu função de delegado, juiz (em Catalão), jornalista, professor (ensino secundário em Ouro Preto e Queluz), mas dedicou-se realmente ao trabalho literário. Dos vários gêneros utilizados, destacou-se como poeta e romancista.

§  Obra poética:

- 1858: Cantos da Solidão
- 1865: Poesias
- 1876: Novas Poesias
- 1883: Folhas de Outono

§  Obra ficcional:

- 1864: O Ermitão de Muquém
- 1871: Lendas e Romances
- 1872: O Garimpeiro; O Seminarista; Histórias e Tradições
- 1873: O Índio Afonso
- 1875: A Escrava Isaura
- 1877: Maurício ou Os Paulistas em São João d’El Rei
- 1979: A Ilha Maldita; O Pão de Ouro
- 1883: Rosaura, a Enjeitada
- 1905: O Bandido do Rio das Mortes

§  Obra teatral:

- 1914: A voz do Pajé

De suas obras, a mais lida é:

A Escrava Isaura
 Foi publicado pela primeira vez em 1875, pela Garnier. Conta as agruras de uma bela escrava mulata que vivia em uma fazenda do Vale do Paraíba, na região fluminense de Campos. O romance foi levado à tela da Rede Globo de Televisão em 1976 e em 1977 e à da Rede Record em 2004 (Ver Escrava Isaura (telenovela) e A Escrava Isaura (2004), respectivamente). A versão da Globo foi exportada para cerca de 150 países. Na China, protagonizada por Lucélia Santos, a Escrava Isaura foi assistida por mais de 1 bilhão de pessoas. Uma edição do livro naquele país teve pelo menos 300 mil exemplares. O romance é considerado por alguns críticos como antiescravista. Armelim Guimarães (1915-2004), neto do escritor, argumenta que, se a história fosse de uma escrava negra, não chamaria a atenção dos leitores daquela época para a questão da escravidão.
A história se passa nos “primeiros anos do reinado de D. Pedro II”, inicialmente em uma fazenda em Campos dos Goitacazes (RJ). Isaura, escrava branca e bem-educada, é assediada pelo seu senhor, Leôncio, recém-casado com Malvina. Isaura se recusa a ceder aos apelos de Leôncio, como já fizera, no passado, sua mãe, que, por ter repelido o pai de Leôncio, fora submetida a um tratamento tão cruel que, em pouco tempo, morrera.
Para forçá-la a ceder, Leôncio manda Isaura para a senzala, trabalhar com as outras escravas. Sempre resignada, suporta passivamente o seu destino, porém, não cede a Leôncio, afirmando que ele, como proprietário, era senhor de seu corpo, mas não de seu coração: “- Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono.” Leôncio, enfurecido, ameaça colocá-la no tronco.
    No entanto, seu pai, ex-feitor da fazendo, consegue tirá-la de lá e foge com ela para Recife (PE). Em Recife, Isaura usa o nome de Elvira e vive reclusa numa pequena casa com seu pai. Então, conhece Álvaro, por quem se apaixona e é correspondida. Vai a um baile com ele, onde é desmascarada e reconhecida. Álvaro, ainda que surpreso, não se importa com o fato de ela ser uma escrava e resolve impedir que Leôncio a leve de volta, inclusive tentando comprá-la. Mas não consegue convencer o vilão, e este leva Isaura de volta ao cativeiro na fazenda.
Leôncio está praticamente falido e, com o objetivo de conseguir um empréstimo do pai de Malvina, consegue se reconciliar com a mulher, afirmando que Isaura é quem o assediava. Então, para punir Isaura, Leôncio manda que ela se case com Belchior, jardineiro da fazenda. Entretanto, Álvaro descobre a falência de Leôncio e compra a dívida dos seus credores, tornando-se proprietário de todos os seus bens, inclusive de seus escravos. No dia do casamento de Isaura, antes que se celebrasse a cerimônia, Álvaro aparece e reclama seus direitos a Leôncio. Vendo-se derrotado e na miséria, Leôncio suicida-se. Tudo termina, portanto, com a punição dos culpados e o triunfo dos justos.[1]

ESTÉTICA

O livro de Bernardo Guimarães mais bem aceito pela crítica é “O seminarista”, cuja primeira edição é de 1872. Permanece atual porque questiona o celibato dos padres. Conta a história de um fazendeiro de Minas Gerais que obriga o seu filho a ser padre. Eugênio, o filho, ama desde criança Margarida, filha de uma agregada da fazenda. Ele tenta abandonar o Seminário de Congonhas em Minas Gerais, mas o pai dele, o capitão Antunes, inventa que Margarida se casou. Eugênio se ordena. Mas ele se endoidece no dia em que volta a sua cidade para rezar a sua primeira missa e se depara, na igreja, com um cadáver, o da Margarida, que tinha estado muito doente.
Duas das poesias mais conhecidas são consideradas pornográficas, embora não sejam do período bestialógico. Trata-se do O Elixir do Pajé e A Origem do Mênstruo. Ambas foram publicadas clandestinamente em 1875.
Em 1852, tornou-se juiz municipal e de órgãos de Catalão (Goiás). Exerceu o cargo até 1854. Em 1858, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1859, trabalhou como jornalista e crítico literário no jornal Atualidade, do Rio de Janeiro. Em 1861, reassumiu o cargo de juiz municipal e de órfãos de Catalão. Foi quando, ao ocupar interinamente o juizado de Direito, Bernardo Guimarães convocou uma sessão extraordinária do júri, que liberou 11 réus porque a cadeia não estava em condições de abrigá-los. Em 1864, volta para o Rio de Janeiro. Em 1866, é nomeado professor de retórica e poética do Liceu Mineiro, de Ouro Preto. Em 1867, casa-se. Em 1873, leciona latim e francês em Queluz (Minas Gerais). Em 1881, é homenageado pelo imperador Dom Pedro II. Morre pobre em 10 de março de 1884.[2]


[1] Disponível em: Fonte: http://fredb.sites.uol.com.br/eisaura.html

[2] Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/bernardo-guimares/bernardo-. php.

CASTRO ALVES

Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho, 1847 – Salvador, 1871). Começou o curso do Direito no Recife, e foi um dos líderes da campanha liberal-abolicionista, junto a Tobias Barreto. Em 1968 chega a São Paulo para continuar os estudos, e tem como colegas Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Salvador de Mendonça. Em 1968 sofre um acidente e amputa um pé. Volta à sua terra natal, e falece três anos depois, tuberculoso.

§  Bibliografia:

- 1870: Espumas Flutuantes
- 1876: A cachoeira de Paulo Afonso
- 1880: Vozes d’África
- 1883: Os Escravos
- 1921: Hinos do Equador (em Obras Completas, por Afrânio Peixoto)
O autor mais destacado da 3ª geração romântica até hoje é reconhecido como um grande poeta brasileiro. A obra de Castro Alves é vastíssima, abrange versos de acentuada preocupação social, bem como versos lírico-amorosos em que o erotismo está presente.
O tom vigoroso dos poemas, a ressonância de seus versos, a indignação e a expressividade são elementos que consagraram o “poeta dos escravos”. Condoeiro, a sua poesia serviu de instrumento de luta contra a escravidão, pois o seu tom de elevação era propício para récitas em locais públicos: praças, salões de leitura, etc... A eloqüência dos versos está evidenciada em poemas que denunciavam a vida miserável dos escravos e também naqueles em que defendiam interesses políticos. O poeta aproximava-se da realidade social, embora conserve ainda o idealismo e o subjetivismo românticos.
O exagero na pintura dos horrendos quadros (“O navio negreiro”), o caráter hiperbólico dos escritos davam mais força às suas idéias e soavam como um grito de rebeldia contra a situação desumana vivida pelos negros. “O navio negreiro” é um poema vigoroso.

O Navio Negreiro


Era um sonho dantesco... O tobadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
            Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...

Legiões de homens negros como a noite,
            Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
            Outras, moças... mas nuas espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
            Em ânsia e mágoa vãs.

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
            Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja ... o chicote estala.
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
            E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambalaeia,
            E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
            Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
            Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da roda fantástica a serpente
Faz doudas esperais!
            Qual num sonho dantesco as sombras voam...
            Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
                        E ri-se Satanás!...


ESTÉTICA

Aparecendo na década de 60, contemporaneamente a Fagundes Varela, Castro Alves representa um traço de união entre o Romantismo agonizante e o Parnasianismo emergente. Em verdade, sua poesia, ao mesmo tempo que constitui a derradeira floração do lirismo sentimental, pressagia de modo flagrante a dissolução das estruturas estéticas em que se fundava o espírito romântico. Tal antinomia vem claramente documentada nos poemas transcritos: de um lado, tem-se a poesia lírico-amorosa, expressa em “Hebréia”, “Adormecida” e “Mocidade e Morte”, onde se nota uma sensualidade escaldante, ainda que vigiada pelos padrões de comportamento em moda no Romantismo; antípoda do lirismo de Gonçalves Dias enaltece o amor em masculino, donjuanesco ou que, ao menos pressupõe a realização integral dos apelos sensoriais No outro pólo, coloca-se a poesia social, estampada e, “Vozes d’África”, de teor humanitarista e abolicionista, “condoeira”, ressoando o exemplo do Vítor Hugo da “Legende dês Siècles”: a voz do poema, convertendo-se em arauto das aspirações populares, ganha acentos retóricos e declamatórios, que, porém, mal disfarçam a postura subjetivista adotada pelo enganjamento do poeta. Tudo isso faz de Castro Alves, contrariamente aos seus predecessores, um poeta otimista, sequioso de vida, idealista, orientado por uma visão utópica do mundo e dos homens que o tom depressivo de “Mocidade e Morte” ensombra apenas por momentos: não esquecer que o tema da morte, sobre ser peculiar à mundividência romântica, se insinua na poesia de Castro Alves também por uma circunstância biográfica (o poema, inicialmente intitulado “O Tísico”, foi escrito a 7 de outubro de 1864, sob efeito da impressão causada por uma hemoptise). No balanço final, Castro Alves reuniu condições excepcionais de talento literário, que uma vida repassada de passionalidade e aventura mais acentuou, tornando-o um dos maiores poetas do tempo e da Literatura Brasileira.[1]


[1] Disponível em: SANTOS, Rubens Pereira dos. Poetas Românticos Brasileiros. Scipione. São Paulo, 1997. Pág. 54.

FAGUNDES VARELA


Luís Nicolau Fagundes Varela (Rio Claro, 1841 – Niterói, 1875). Entrou para a faculdade de Direito de São Paulo em 1862. Sofreu com a perda de seu primeiro filho, falecido com três meses de idade. Em 1865, transfere-se para a Faculdade de Direito do Recife, mas logo abandona o curso e volta para São Paulo, após a morte da esposa. Dominado pelos vícios, e vivendo à custa do pai, falece aos 33 anos.

Fagundes Varela pode ser considerado tanto um poeta da 2ª como da 3ª geração romântica. Um homem torturado, revoltado com a morte prematura de seu filho de três meses, entregou-se à boêmia e à bebida. Por outro lado, possuía uma preocupação com o social, com a condição humana. A natureza sempre o atraiu desde os tempos de criança. Possuía também uma religiosidade, manifestada em versos de inspiração bíblica. Há um claro contraste na vida do poeta: a busca da natureza como refúgio; a volta para a cidade, local de perdição. Na cidade, Fagundes Varela não pode livrar-se das suas inquietações, a não ser quando está mergulhado no álcool. A lembrança do episódio da morte do filho deixava-o transtornado e fragilizado.

§  Bibliografia:

- 1861: Noturnas
- 1863: O Estandarte Auriverde
- 1864: Vozes da América
- 1865: Cantos e Fantasias
- 1869: Cantos Meridionais; Cantos do Ermo e da Cidade
- 1875: Anchieta, ou O Evangelho da Selva
- 1878: Cantos Religiosos
- 1880: Diário do Lázaro

A Volta
A casa era pequenina,
Não era? Mas tão bonita
Que lembrando dela, não é?

Quero voltar? Eu te sigo.
Eu amo o ermo profundo
A paz que foge do mundo
Preza os tetos de sapé.

Bem vejo que tens saudades.
Não tens? Pobre passarinho!
De teu venturoso ninho
Passaste à dura prisão!

Vamos, as matas e os campos
Estão cobertos de flores,
Tecem mimosos cantores
Hinos à bela estação.

E tu mais bela que as flores...
Não cores...aos almos cantos
Ajuntarás os encantos
De teu gorjeio infantil.

Escuta, filha, a estas horas
Que a sombra deixa as alturas,
Lá cantam as saracuras
Junto aos lagos cor de anil...

Os vaga-lumes em bando
Correm sobre a relva fria,
Enquanto o vento cicia
Na sombra dos taquarais;

E os gênios que ali vagueiam
Mirando a casa deserta,
Repetem de boca aberta:
Acaso não virão mais?

Mas nós iremos, tu queres,
Não é assim? Nós iremos,
Mais belo reviveremos
Os belos sonhos de então.

E, à noite, fechada a porta,
Tecendo planos de glórias,
Cantaremos mil histórias
Sentados junto ao fogão. [1]


ESTÉTICA

Conquanto deva muito aos poetas que o precederam, Fagundes Varela representa uma voz de autonomia e inconformação nos quadros de nosso Romantismo, por vezes elevada a ponto de raiar na genialidade, e baixa a ponto de tombar na mediocridade. Os poemas selecionados documentam os instantes de ascensão, embora uma que outra solução expressiva denuncie a queda na pressão lírica. Por outro lado, retratam apenas dois aspectos da mundividência de Varela: é que, “sertanista, bucólico, lírico, paisagista, épico, místico, descritivo, humorista, tudo ele foi, um pouco de cada vez” (Edgard Cavalheiro, Introdução às Poesias Completas, Ed. cit., p. 21).
Dir-se-ia ausente a “literatura” em favor duma naturalidade que só é artística por feliz coincidência: sem artificialismo, o poeta deixa transbordar a mágoa que o atormenta, no primeiro poema, e canto otimista e campestre que se ergue no outro. A impressão é que o lirismo jorra aderido ao ato de sentir, e como Varela fosse um sensitivo a sofrer em alta e contínua tensão todas as experiências, cada transe sombrio ou cor-de-rosa de sua vida acabou assumindo tonalidade pura ou extrema. Assim, a dor de perder um filho motiva um poema que é das expressões máximas de nossa poesia religiosa, graças à fusão do desespero com uma forma de comovida eloqüência: vale notar que a temperatura das estrofes acompanha de perto a do sentimento que revolve o poeta, como se, pela verbalização, o tormento fosse diminuindo gradativamente, numa progressão que culmina no apaziguamento final (V. quatro versos finais). Nenhum poeta romântico brasileiro teve existência tão desgraçada, e nenhum outro de seu tempo ainda espera o juízo que merece: “inspirado”, espécie de Baudelaire aflito e ingênuo, situa-se no mesmo nível de nossos grandes românticos, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves.


[1] SANTOS, Rubens Pereira dos. Poetas Românticos Brasileiros. Scipione. São Paulo, 1997. Pág. 49.

GONÇALVES DIAS


Antônio Gonçalves Dias nasceu a 10 de agosto de 1823, nos arredores de Caxias, no Maranhão. Filho Natural de português e mestiça, com a morte do pai, que, entretanto se casara regularmente, é enviado pela madrasta a estudar Direito em Coimbra (1838). Durante o curso, escreve seus primeiros versos e participa do grupo de poetas medievistas que se reunia em torno dO Trovador. Formado em 1844, regressa ao Maranhão, e conhece Ana Amélia Ferreira do Vale, que lhe inspiraria mais tarde o poema “Ainda uma vez – adeus!”. Em 1846, muda-se para o Rio de Janeiro, onde se dedica ao magistério (professor de Latim e História do Brasil no Colégio
 Pedro II) e ao jornalismo (redator da revista Guanabara). Faleceu
ao regressar de uma viagem à Europa no naufrágio do “Ville de Boulogne”,
 já próximo do Maranhão, a 3 de Novembro de 1864.

§  Bibliografia:

- 1846: Primeiros Cantos;
- 1847: Leonor de Mendonça , teatro;
- 1848: Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão;
- 1851: Últimos Cantos
- 1857: Os Timbiras;
- 1858: Dicionário da Língua Tupi;
1868-1869: Obras Póstumas, 6 vol. Organizadas por Antônio Henrique Real.



Ainda Uma Vez – Adeus!

I

Enfim te vejo! – enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

II

       Dum mundo a outro impelido,
       Derramei os meus lamentos
       Nas surdas asas dos ventos,
       Domar na crespa cerviz!
       Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
       Que alheios males não sente,
       Nem se condói do infeliz! (...)

Se Se Morre de Amor!

Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entres os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança! (...)


ESTÉTICA
Afora a dualidade temática e a certeza de que divisamos agora um excepcional poeta lírico, valia a pena considerar as duas forças que lhe movem a imaginação. De um lado, temos a sedução do passado, resultante do estágio coimbrão do poeta e de a literatura brasileira ainda permanecer naqueles tempos estreitamente presa aos modelos portugueses. Assim, seu conceito de amor, expresso em “Se se morresse de amor!”, em que o sentimento se confunde com a própria existência (“amor é vida”), como que assinala o regresso a uma concepção trovadoresca do ofício poético através do qual o amador se confessava submisso e servil à dama pretendida. Após o artificialismo da estética arcádica, repunha-se a “sinceridade” medieval. Inspirado nos medievistas portugueses, Gonçalves Dias reinstala o “serviço amoroso” como nenhum outro de seu tempo, fruto duma rara adequação entre atitude literária e uma sensibilidade apurada, que experiências infelizes mais acentuaram. O lirismo em feminino, que se observa em “Ainda uma vez – adeus!”, provém de igual fonte: amor-melancolia, amor-desespero, amor-desilusão, que testemunha flagrantemente o quanto o poeta encarnou o próprio espírito do Romantismo nascente, caracterizado pela passividade nos domínios do sentimento. Dessa forma, o medievalismo cavalheiresco encontrava sua razão de ser na emotividade de um poeta mestiço e tropical. Gonçalves Dias tornou-se mestre de muitos poetas posteriores, graças a elaboração de autênticas obras primas de lirismo-amoroso, como “Ainda uma vez –adeus!”; e pelo outro, atualizou a temática indígena, conferindo-lhe grandeza que desconhecia antes e que jamais atingiu depois, decerto porque lhe inoculou alta dose de confissão. Acrescente-se, por fim, uma consciência artesanal, patente no acabamento da forma e na diversidade dos recursos métricos, peculiar ao poeta superior.[1]


[1] MOISÉS, Massaud. A Literatura através dos textos. 24ª ed. CULTRIX. São Paulo, 2004.