quarta-feira, 27 de abril de 2011

ÁLVARES DE AZEVEDO


Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 – Rio de Janeiro, 1852). Matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1848, mas faleceu quatro anos depois e não chegou a concluir o curso. Um ano após sua morte, suas poesias foram reunidas e publicadas no volume Poesias.

§  Bibliografia:

- 1853: Poesias de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (contém “Lira dos Vinte Anos”, a sua única obra preparada para publicação).
- 1855: Macário;
- 1855: Obras de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (com a publicação de sua prosa “Noite na Taverna”).
- 1866: O conde Lopo. Todas as obras do poeta foram publicadas postumamente.


Itália

I

Lá na terra da vida e dos amores,
Eu podia viver inda um momento;
Adormecer ao sol da primavera
Sobre o colo das virgens de Sorrento!

Eu podia viver – e porventura
Nos luares do amor amar a vida;
Dilatar-se minh’alma como o seio
Do pálido Romeu na despedida!

Eu podia na sombra dos amores
Tremer num beijo o coração sedento:
Nos seios da donzela delirante
Eu podia viver inda um momento!

Ó Anjo de meu Deus! se nos meus sonhos
Não mentia o reflexo da ventura,
E se Deus me fadou nesta existência
Um instante de enlevo e de ternura,

Lá entre os Laranjais, entre os loureiros,
Lá onde a noite seu aroma espalha
Nas longas praias onde o mar suspira,
Minha alma exalarei no céu da Itália! (...)

II

A Itália! Sempre a Itália delirante!
E os ardentes saraus, e as noites belas!
A Itália do prazer, do amor insano,
Do sonho fervoroso das donzelas!

E a gôndola sombria resvalando
Cheia de amor, de cânticos, de flores,
E a vaga que suspira à meia-noite
Embalando o mistério dos amores!

Ama-te o sol, ó terra de harmonia,
Do Levante na brisa te perfumas:
Nas praias de ventura e primavera
Vai o mar estender seu véu d’escumas!

Vai a lua sedenta e vagabunda
O teu berço banhar na luz saudosa,
As tuas noites estrelar de sonhos
E beijar-te na fronte vaporosa! (...)


Se Eu Morresse Amanhã!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
       Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
       Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
      Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudece ao menos
       Se eu morresse amanhã!

ESTÉTICA

Álvares de Azevedo foi um dos poetas do Ultra-Romantismo brasileiro. Leitor de Byron, Musset, Goethe, sua obra poética está fortemente marcada pela fértil imaginação e pela inteligência. Apesar da morte precoce (faleceu com vinte anos), produziu uma vasta e importante obra. A crítica sempre o considerou como um romântico exaltado, seus escritos colocam à mostra uma sensibilidade aguda, um sofrimento profundo. Todas as características românticas apareceram de forma ampliada. O sonho e a imaginação são levados às últimas conseqüências. O crítico Antonio Candido diz sobre o poeta: “... o sonho é nele tão forte quanto à realidade; os mundos imaginários, tão atuantes quanto o mundo concreto; e a fantasia se torna experiência mais viva que a experiência, podendo causar tanto sofrimento quanto ela”.
A angústia e a dúvida habitavam a cabeça do poeta. Muitos o chamavam de “poeta da dúvida”, “poeta da melancolia”, “poeta da solidão”, etc. Todas essas designações podem ser dadas a ele, mas a dúvida é uma constante nos seus poemas, principalmente em “Se eu morresse amanhã”.

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