quarta-feira, 27 de abril de 2011

GONÇALVES DIAS


Antônio Gonçalves Dias nasceu a 10 de agosto de 1823, nos arredores de Caxias, no Maranhão. Filho Natural de português e mestiça, com a morte do pai, que, entretanto se casara regularmente, é enviado pela madrasta a estudar Direito em Coimbra (1838). Durante o curso, escreve seus primeiros versos e participa do grupo de poetas medievistas que se reunia em torno dO Trovador. Formado em 1844, regressa ao Maranhão, e conhece Ana Amélia Ferreira do Vale, que lhe inspiraria mais tarde o poema “Ainda uma vez – adeus!”. Em 1846, muda-se para o Rio de Janeiro, onde se dedica ao magistério (professor de Latim e História do Brasil no Colégio
 Pedro II) e ao jornalismo (redator da revista Guanabara). Faleceu
ao regressar de uma viagem à Europa no naufrágio do “Ville de Boulogne”,
 já próximo do Maranhão, a 3 de Novembro de 1864.

§  Bibliografia:

- 1846: Primeiros Cantos;
- 1847: Leonor de Mendonça , teatro;
- 1848: Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão;
- 1851: Últimos Cantos
- 1857: Os Timbiras;
- 1858: Dicionário da Língua Tupi;
1868-1869: Obras Póstumas, 6 vol. Organizadas por Antônio Henrique Real.



Ainda Uma Vez – Adeus!

I

Enfim te vejo! – enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

II

       Dum mundo a outro impelido,
       Derramei os meus lamentos
       Nas surdas asas dos ventos,
       Domar na crespa cerviz!
       Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
       Que alheios males não sente,
       Nem se condói do infeliz! (...)

Se Se Morre de Amor!

Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entres os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança! (...)


ESTÉTICA
Afora a dualidade temática e a certeza de que divisamos agora um excepcional poeta lírico, valia a pena considerar as duas forças que lhe movem a imaginação. De um lado, temos a sedução do passado, resultante do estágio coimbrão do poeta e de a literatura brasileira ainda permanecer naqueles tempos estreitamente presa aos modelos portugueses. Assim, seu conceito de amor, expresso em “Se se morresse de amor!”, em que o sentimento se confunde com a própria existência (“amor é vida”), como que assinala o regresso a uma concepção trovadoresca do ofício poético através do qual o amador se confessava submisso e servil à dama pretendida. Após o artificialismo da estética arcádica, repunha-se a “sinceridade” medieval. Inspirado nos medievistas portugueses, Gonçalves Dias reinstala o “serviço amoroso” como nenhum outro de seu tempo, fruto duma rara adequação entre atitude literária e uma sensibilidade apurada, que experiências infelizes mais acentuaram. O lirismo em feminino, que se observa em “Ainda uma vez – adeus!”, provém de igual fonte: amor-melancolia, amor-desespero, amor-desilusão, que testemunha flagrantemente o quanto o poeta encarnou o próprio espírito do Romantismo nascente, caracterizado pela passividade nos domínios do sentimento. Dessa forma, o medievalismo cavalheiresco encontrava sua razão de ser na emotividade de um poeta mestiço e tropical. Gonçalves Dias tornou-se mestre de muitos poetas posteriores, graças a elaboração de autênticas obras primas de lirismo-amoroso, como “Ainda uma vez –adeus!”; e pelo outro, atualizou a temática indígena, conferindo-lhe grandeza que desconhecia antes e que jamais atingiu depois, decerto porque lhe inoculou alta dose de confissão. Acrescente-se, por fim, uma consciência artesanal, patente no acabamento da forma e na diversidade dos recursos métricos, peculiar ao poeta superior.[1]


[1] MOISÉS, Massaud. A Literatura através dos textos. 24ª ed. CULTRIX. São Paulo, 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário