quarta-feira, 27 de abril de 2011

CASTRO ALVES

Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho, 1847 – Salvador, 1871). Começou o curso do Direito no Recife, e foi um dos líderes da campanha liberal-abolicionista, junto a Tobias Barreto. Em 1968 chega a São Paulo para continuar os estudos, e tem como colegas Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Salvador de Mendonça. Em 1968 sofre um acidente e amputa um pé. Volta à sua terra natal, e falece três anos depois, tuberculoso.

§  Bibliografia:

- 1870: Espumas Flutuantes
- 1876: A cachoeira de Paulo Afonso
- 1880: Vozes d’África
- 1883: Os Escravos
- 1921: Hinos do Equador (em Obras Completas, por Afrânio Peixoto)
O autor mais destacado da 3ª geração romântica até hoje é reconhecido como um grande poeta brasileiro. A obra de Castro Alves é vastíssima, abrange versos de acentuada preocupação social, bem como versos lírico-amorosos em que o erotismo está presente.
O tom vigoroso dos poemas, a ressonância de seus versos, a indignação e a expressividade são elementos que consagraram o “poeta dos escravos”. Condoeiro, a sua poesia serviu de instrumento de luta contra a escravidão, pois o seu tom de elevação era propício para récitas em locais públicos: praças, salões de leitura, etc... A eloqüência dos versos está evidenciada em poemas que denunciavam a vida miserável dos escravos e também naqueles em que defendiam interesses políticos. O poeta aproximava-se da realidade social, embora conserve ainda o idealismo e o subjetivismo românticos.
O exagero na pintura dos horrendos quadros (“O navio negreiro”), o caráter hiperbólico dos escritos davam mais força às suas idéias e soavam como um grito de rebeldia contra a situação desumana vivida pelos negros. “O navio negreiro” é um poema vigoroso.

O Navio Negreiro


Era um sonho dantesco... O tobadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
            Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...

Legiões de homens negros como a noite,
            Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
            Outras, moças... mas nuas espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
            Em ânsia e mágoa vãs.

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
            Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja ... o chicote estala.
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
            E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambalaeia,
            E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
            Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
            Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da roda fantástica a serpente
Faz doudas esperais!
            Qual num sonho dantesco as sombras voam...
            Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
                        E ri-se Satanás!...


ESTÉTICA

Aparecendo na década de 60, contemporaneamente a Fagundes Varela, Castro Alves representa um traço de união entre o Romantismo agonizante e o Parnasianismo emergente. Em verdade, sua poesia, ao mesmo tempo que constitui a derradeira floração do lirismo sentimental, pressagia de modo flagrante a dissolução das estruturas estéticas em que se fundava o espírito romântico. Tal antinomia vem claramente documentada nos poemas transcritos: de um lado, tem-se a poesia lírico-amorosa, expressa em “Hebréia”, “Adormecida” e “Mocidade e Morte”, onde se nota uma sensualidade escaldante, ainda que vigiada pelos padrões de comportamento em moda no Romantismo; antípoda do lirismo de Gonçalves Dias enaltece o amor em masculino, donjuanesco ou que, ao menos pressupõe a realização integral dos apelos sensoriais No outro pólo, coloca-se a poesia social, estampada e, “Vozes d’África”, de teor humanitarista e abolicionista, “condoeira”, ressoando o exemplo do Vítor Hugo da “Legende dês Siècles”: a voz do poema, convertendo-se em arauto das aspirações populares, ganha acentos retóricos e declamatórios, que, porém, mal disfarçam a postura subjetivista adotada pelo enganjamento do poeta. Tudo isso faz de Castro Alves, contrariamente aos seus predecessores, um poeta otimista, sequioso de vida, idealista, orientado por uma visão utópica do mundo e dos homens que o tom depressivo de “Mocidade e Morte” ensombra apenas por momentos: não esquecer que o tema da morte, sobre ser peculiar à mundividência romântica, se insinua na poesia de Castro Alves também por uma circunstância biográfica (o poema, inicialmente intitulado “O Tísico”, foi escrito a 7 de outubro de 1864, sob efeito da impressão causada por uma hemoptise). No balanço final, Castro Alves reuniu condições excepcionais de talento literário, que uma vida repassada de passionalidade e aventura mais acentuou, tornando-o um dos maiores poetas do tempo e da Literatura Brasileira.[1]


[1] Disponível em: SANTOS, Rubens Pereira dos. Poetas Românticos Brasileiros. Scipione. São Paulo, 1997. Pág. 54.

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