terça-feira, 5 de abril de 2011

VINICIUS DE MORAIS

Nasceu no Rio de Janeiro, a 19 de outubro de 1913. Após o curso secundário no Colégio Santo Inácio, época em que já compõe versos, ingressa na Faculdade Nacional de Direito (1930). Formado (1933), estréia no mesmo ano com um livro de poesia, O Caminho para a Distância. Abandona a advocacia e passa a exercer as funções de censor cinematográfico, até 1938, quando parte para a Inglaterra em bolsa de estudos. Ingressa na carreira diplomática em 1943, e segue para Los Angeles, onde permanece de 1946 a 1950. Faleceu a 9 de julho de 1980, na cidade natal.


§        Deixou:

- 1935: Forma e Exegese;
- 1936: Ariana, a Mulher;
- 1938: Novos Poemas;
- 1943: Cinco Elegias;
- 1946: Poemas, Sonetos e Baladas;
- 1949: Pátria Minha;
- 1954: Antologia Poética;
- 1957: Livro de Sonetos;
- 1959: Novos Poemas II;
- 1965: Cordélia e o Peregrino.

§        Crônicas e Poemas:

- 1962: Para Viver um Grande Amor;
- 1966: Para uma Menina com uma Flor.


§        Teatro:

- 1962: Orfeu da Conceição.
Embora poeta de altitude e originalidade, grande parte de seu prestígio decorreu das músicas populares e do Orfeu da Conceição.

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Nunca, sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de amar assim muito amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

ESTÉTICA

Na visão que se possa ter do papel e da importância de Vinicius de Morais no panorama do Modernismo, é capaz de haver a interferência incômoda da faceta por que vem sendo mais conhecido ultimamente: o compositor de músicas populares, espécie de François Villon da sociedade de consumo, cultivando uma boêmia dourada e inofensiva. A nós interessa tão-somente focalizar o poeta, embora saibamos que entre as duas manifestações de seu caráter lírico existem indefectíveis pontos de contato. E na interpretação dos poemas transcritos, deve-se considerar que pertencem à segunda fase da carreira do autor: “A primeira, transcendental, frequentemente mística, resultante de sua fase cristã”, segundo afirma o poeta na “Advertência” à sua Antologia Poética, não se representa nesta coletânea apenas porque menos significava. Entretanto, nem todo o “idealismo dos primeiros anos” foi superado com “os movimentos de aproximação do mundo material”, como se pode verificar pela amostra oferecida à leitura. Na verdade, que vemos nessas composições? Primeiro que tudo, o erotismo intenso, absorvente, que assinala um lírico essencialmente instintivo, emocional. Visto que sua mundividência se fundamenta na emoção, torna-se constante a repulsa do conceito, da idéia pura, que poderia coroar-lhe os sonetos, alguns dos quais obras-primas no gênero dentro do Modernismo. Ao repudiar o idealismo, o poeta descreveu uma curva que o arrastou insensivelmente à crônica, à reportagem do cotidiano, de onde muitas vezes a poesia acabou desertando. No entanto, o melhor Vinicius de Morais está nos sonetos, suficientes para lhe garantir destaque e permanência.[1]


[1] MOISÉS, Massaud. A Literatura através dos textos. 24ª ed. CULTRIX. São Paulo, 2004.

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