Rui Ribeiro Couto nasceu em Santos (Estado de São Paulo), a 12 de março de 1898. Depois de estudar na Escola de Comércio José Bonifácio de sua cidade natal, matricula-se na Faculdade de Direito de São Paulo, mas interrompe o curso e muda-se para o Rio de Janeiro, vindo a diplomar-se pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais (1919). Formado, continua a dedicar-se ao jornalismo, até que em 1924 vai para o interior de São Paulo como promotor, e de lá para Minas Gerais (1926-1928). A seguir, ingressa no corpo diplomático e vai servir em França, Holanda, Portugal, Bulgária. Faleceu em Paris, a 30 de maio de 1963.
§ Poesias:
- 1921: O Jardim das Confidências;
- 1924: Poemetos de Ternura e de Melancolia;
- 1926: Um Homem na Multidão;
- 1930: Canções de Amor;
- 1933: Noroeste e Outros Poemas do Brasil; Correspondência de Família;
- 1934: Poesia (reúne os dois primeiros livros); Província;
- 1939: Cancioneiro de D. Afonso;
- 1943: Cancioneiro do Ausente;
- 1944: Dia Longo;
- 1952: Entre Mar e Rio;
- 1960: Poesias Reunidas (engloba os livros anteriores);
- 1961: Longe.
§ Romance:
- 1931: Cabocla;
- 1940: Prima Belinha.
§ Conto:
- 1922: Circo de Cavalinhos; A Casa do Gato Cinzento; O Crime do Estudante Batista;
- 1927: Baianinha e Outras Mulheres;
- 1933: Clube das Esposas Enganadas;
- 1940: Largo da Matriz;
- 1944: Uma Noite na Chuva e Outros Contos.
§ Viagem, Ensaio, Crônica:
- 1924: Cidade do Vício e da Graça;
- 1932: Espírito de São Paulo;
- 1934: Presença de Santa Teresinha; Conversa Inocente;
- 1935: Chão de França;
- 1956: Barro do Município;
- 1961: Sentimento Lusitano.
§ Teatro:
- 1921: Nossos Papás.
A despeito de haver cultivado tantos gêneros, Ribeiro Couto atingiu o máximo de seu talento em poesia.
Chuva
A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo... Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora...
E a chuva fina continua, fina e fria,
Continua a cair pela tarde, lá fora.
Da saleta fechada em que estamos os dois,
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta...
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
Se um de nós vai falar e recua depois.
Dentro de nós existe uma tarde mais fria...
Ah! Para que falar? Como é suave, brando,
O tormento de adivinhar — quem o faria? —
As palavras que estão dentro de nós chorando...
Somos como os rosais que, sob a chuva fria,
Estão lá fora no jardim se desfolhando.
Chove dentro de nós... Chove melancolia...
Serenata em Coimbra
Por vós e de um só nome eu te chamaria,
Não fosse a inclinação ao natural — infanta! —
E o pudor que também mais alto se alevanta
No meu vocabulário e na minha poesia.
Passaste com um cântaro à cabeça.
E eu — Mondego, Choupal, Camões, Rainha Santa —
Outro nome não sei que te valha e mereça.
Infanta? Pobre rapariga,
Havia sugestões clássicas pelo espaço
E eras infanta, sim, na paisagem antiga:
Parecias pisar o mármore de um paço.
(Era estranho que eu não ouvisse o burburinho
De fidalgos em ala a oferecer-te o braço.)
Entre escuros portais vejo-me a errar sozinho.
Vai alta a noite. Em que casa moras?
Na colina, uma luz entre tantas
(Não de castelos de rainhas e de infantas)
Será tua janela ainda acesa a estas horas.
Amanhã voltarás ao rio, lavadeira.
Dorme... Dentro da noite um refrão de modinha
Sobe da terra ao céu numa voz estrangeira:
Se Coimbra, se Coimbra fosse minha...
ESTÉTICA
Ribeiro Couto representa, no interior da revolução modernista, a permanência atuante de certos padrões de Arte e de Vida instaurados pelo Simbolismo. Verlaine parece ser, ao menos nas primeiras obras, o nume tutelar, alma gêmea que lhe ensinou a ver o mundo como um palco de imorredouras melancolias banhadas em chuva fina e perene. Ribeiro Couto é o criador do que Ronald de Carvalho intitulou de Penumbrismo, em artigo acerca de Jardim das Confidências. Na verdade, a estética dos meios-tons crepusculares e outoniços, a intimidade recolhida de salas atapetadas e silentes, a dolência de jardins cruzados por brumas peregrinas e irreais, - vinha desde o Decadentismo e o Simbolismo, como notamos em Eduardo Guimaraens , mas é em Ribeiro Couto que se define e ganha acentos novos. Com o tempo, o lírico santista foi-se despojando, depurando, sem abandonar de todo quanto o de “dentro”, estabelecendo uma fusão que assinala o surgimento de poesia mais tensa e madura. Para tal amadurecimento, muitas circunstâncias contribuíram, mas apenas cabe referir uma: a filiação estética. Por sobre o apego ao Simbolismo, impôs a afinidade, fruto de coincidências arquetípicas, pelo lirismo tradicional português, evidente na dicção geral, como por exemplo, “Serenata em Coimbra”. É possível que tudo isso o torne menos brasileiro aos olhos de alguém, mas ajuda a situá-lo, indiscutivelmente, como uma das mais altas vozes líricas de sua geração.[1]
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