quarta-feira, 27 de abril de 2011

RAIMUNDO CORREIA


Raimundo da Mota de Azevedo Correia (litoral do Maranhão, 1860 – Paris, 1911). Formado em Direito na Universidade de São Paulo, 1882, foi magistrado no Rio de Janeiro, Minas Gerais e na Capital. Entre 1892 e 1899 foi também funcionário e professor de Direito em Ouro Preto, secretário de legação em Lisboa, vice-diretor e professor de um colégio em Petrópolis. Entrou para a carreira diplomática, e faleceu em pleno tratamento de saúde em Paris.

§  Bibliografia:

- 1879: Primeiros sonhos
- 1883: Sinfonias
- 1887: Versos e Versões, 1883/1886
- 1891: Aleluias, 1888/1890
- 1898: Poesias
- 1948: Poesias completas
- 1961: Poesia completa e prosa.

Anoitecer

Esbraseia a Ocidente na Agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de oiro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...


Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...

Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.[1]


ESTÉTICA

Irmão gêmeo de Antero de Quental e Cruz e Sousa, Raimundo Correia é dos raros poetas da Literatura Brasileira que sofreram obstinadamente da ânsia de infinito, da angústia de transcender, que enforma os santos e os visionários. Quando muito, o impacto das novas correntes de pensamento acelerou o processo de transformação latente, rumo das profundezas e alturas em que, afinal, se colocou a mente do poeta. Daí a relatividade do seu Parnasianismo, mais de ordem externa que doutrinária: o apuro da forma, em vez de cobrir o transcurso das emoções, serve perfeitamente ao propósito. Na verdade, o comando das soluções estilísticas em momento algum chega à obsessão que se nota em Alberto de Oliveira, dando mesmo a impressão de um à-vontade incoerente com o decálogo parnasiano: registre-se a prodigalidade de reticências nos vários poemas transcritos, frinchas que, com romper a uniformidade dos versos, permitem extravasar a intimidade do poeta. Desse modo, o próprio descritivismo se atenua, e em lugar de notações precisas e impessoais, insinua-se um clima de sugestões vagas e subjetivas. Tais acentos, presentes em todos os poemas, atingem o zênite em “Plenilúnio”, onde o sortilégio do luar ganha uma rarefação de matiz autenticamente simbolista, incluindo a loucura que consagra os sonhadores e idealistas. Basta essa composição para conferir a Raimundo correia posto de honra nos quadros da Literatura Brasileira: talvez fosse o menos esteta de nosso parnasianos, mas é inegável que carregava como nenhum deles a inquietação filosófica que gera a poesia superior, capaz de resistir ao tempo e às modas.


[1] Parnasianismo, Simbolismo/ [Editor] Instituto Cultural Itaú. São Paulo: ICI, 1997. Pág.14.

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