terça-feira, 5 de abril de 2011

MENOTTI DEL PICCHIA

Paulo Mennotti del Picchia nasceu em São Paulo, a 20 de março de 1892. Estudos primários e secundários em Itapira, Campinas e Pouso Alegre (interior de São Paulo). Em 1913, formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo. Desde adolescência dedicou-se ao jornalismo, mas exerceu outras atividades, como editor, fazendeiro, industrial, procurador-geral do Estado de São Paulo, banqueiro, deputado, tabelião. Faleceu a 23 de Agosto de 1988.
§        Poemas:

- 1913: Poemas do Vício e da Virtude;
- 1917: Moisés, Juca Mulato;
- 1922: Angústia de D. João;
- 1925: Chuva de Pedra;
- 1926: O amor de Dulcinéia;
- 1928: República dos Estados Unidos do Brasil;
- 1935: Poemas.

§        Romances:

- 1920: Flama e Argila;
- 1922: O Homem e a Morte;
- 1923: Dente de Ouro;
- 1930: A República dos 3000;
- 1936: Kalum, o Sangrento;
- 1938: Kamunká;
- 1940: Salome.

§        Crônica:

- 1921: O Pão de Moloch.

§        Conto:

- 1926: Toda Nua.

§        Ensaio:

- 1935: Soluções Nacionais;
- 1959: Sob o signo de Polímnia.
Sua obra mais representativa foi Juca Mulato.


Juca Mulato

Publicado em 1917, conheceu numerosas edições. O entrecho do poemeto resume-se no seguinte: Juca Mulato era um caboclo feliz até o dia em que deitou o olhar na filha da patroa. Imerso agora num irreprimível sofrimento, procura num curandeiro o lenitivo. Em vão. Acreditando que só na fuga encontraria o esquecimento, abraça-se à terra em despedida, e ouve da alma das coisas uma imprecação contra seu gesto extremista. Apaziguado, recobra o alento e volta ao mundo a que realmente pertence.

V

Juca Mulato cisma.  Olha a lua e estremece.
Dentro dele um desejo abre-se em flor e cresce
e ele pensa, ao sentir esses sonhos ignotos,
que a alma é como uma planta, os sonhos como os brotos,
vão rebentando nela e se abrindo em floradas...

Franjam de ouro, o ocidente, as chamas das queimadas,
Mal se pode conter de inquieto e satisfeito.
Advinha que tem qualquer coisa no peito
e às promessas do amor a alma escancara ansiado
como os áureos portais de um palácio encantado!...

Mas a mágoa que ronda a alegria de perto
entra no coração sempre que o encontra aberto...
Juca Mulato sofre... Esse olhar calmo e doce
fulgiu-lhe como a luz, como a luz apagou-se.
Feliz até então, tinha a alma adormecida...
Esse olhar que o fitou, o acordou para a vida!
A luz que nele viu deu-lhe a dor que agora o assombra,
como o sol que traz a luz e, depois, deixa a sombra...

VII
E, despertando à Vida esse caboclo rude,
alma cheia de abrolhos,
notou, na imensa dor de quem se desilude
que, desse olhar que amou, fugitivo e sereno,
só lhe restara no lábio um travo de veneno,
uma chaga no peito e lágrimas nos olhos! (...)

ESTÉTICA

Juca Mulato é uma obra de transição entre o Parnasianismo e o Simbolismo, ainda reinantes na segunda década deste século, e o Modernismo, que então se anunciava. No tema que lhe serve de fundamento, em torno do caboclo, se evidencia a duplicidade: novo enquanto tema de poesia, não inteiramente novo enquanto tratamento. O próprio ritmo dos versos das estrofes e destas no interior dos cantos traduz-se numa eloqüência de metros longos e cantantes que o lirismo simbolista explorou abundantemente. Entretanto, o germe da vanguarda infiltra-se na heterometria e em certa modulação de prosa, revelando maus uma vez a antítese que percorre a obra. O poemeto é atravessado por um denso sentimento de brasilidade, que atende simultaneamente às aspirações nacionalistas dos românticos e às dos reformadores de 22: pelo primeiro, aglutina-se a um passado que agoniza, e pelo segundo, à modernidade em marcha, num movimento oscilatório que permite classificar Juca Mulato de autentico poema pré-modernista.

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