terça-feira, 5 de abril de 2011

JOSÉ LINS DO REGO

José Lins do Rego Cavalcante nasceu no Engenho Corredor, município de Pilar (Paraíba), a 3 de julho de 1901. Formado em Direito pela Faculdade de Recife, a amizade com Gilberto Freyre, José Américo de Almeida e Olívio Montenegro desvia-lhe a atenção da política para a literatura, sobretudo de fala inglesa, e o nosso regionalismo. Realizou várias viagens à Europa, ao Oriente e à América Latina. Faleceu em 12 de setembro de 1957, no Rio de Janeiro.

§        Romances e Novelas:

- 1933: Doidinho;
- 1934: Bangüi;
- 1935: O Moleque Ricardo;
- 1936: Usina;
- 1937: Pureza;
- 1938: Pedra Bonita;
- 1939: Riacho Doce;
- 1941: Água-Mãe;
- 1943: Fogo-Morto;
- 1947: Eurídice;
- 1953: Cangaceiros;
- 1954: Memórias: Meus Verdes Anos.

§        Ensaios e Crônicas:

- 1942: Gordos e Magros;
- 1943: Pedro Américo;
- 1946: Conferências no Prata;
- 1945: Poesia e Vida;
- 1951: Viagens: Bota de Sete Léguas;
- 1952: Homens, Seres e Coisas;
- 1954: A Casa e o Homem;
- 1955: Roteiro de Israel;
- 1957: Presença do Nordeste na Literatura Brasileira; Gregos e Troianos.
- 1958: O Vulcão e a Fonte;

Fogo Morto

Publicado em 1943, Fogo Morto focaliza a ascensão e a decadência de um engenho na Paraíba durante a segunda metade do século XIX. Divide-se em três partes, uma para cada personagem central, o mestre José Amaro, o Coronel Lula e o Capitão Vitorino, cujas vidas se entrelaçam e se influenciam reciprocamente. José Amaro, seleiro de beira de estrada nas terras do Engenho Santa Fé, pertence ao Coronel Lula, apóia o Capitão Antônio Silvino, cabeça de cangaceiros, contra o senhor da propriedade, ao mesmo tempo em que sofre a histeria e o celibato da filha. O Coronel Lula, prepotente e rezador, descura dos haveres deixados pelo sogro, e aos poucos o Engenho Santa Fé vai descambando, até chegar a fogo morto; fazem-lhe companhia a mulher (D. Amélia), cheia de fibra e coragem, a filha (Neném), que arrosta sua melancolia de solteirona por culpa do pai, e a cunhada (D. Olívia), demente. O Capitão Vitorino Carneiro da Cunha, generoso e farronqueiro vive para a política local, quase por completo esquecido da mulher (D. Adriana), que com ele se casara sem amor, e do filho (Luís), engajado na Marinha.
A primeira parte do romance centra-se na casa, à beira da estrada no engenho Santa Fé, do Mestre José Amaro, seleiro orgulhoso e machista, que se recusa a ser dominado por qualquer um, só trabalha para quem escolhe e admira o cangaceiro Antônio Silvino.
Boa parte deste trecho da obra se constrói através dos diálogos travados por José Amaro com os passantes. Entre estes está o compadre Vitorino Carneiro da Cunha, apelidado pelas crianças de Papa-rabo. O Mestre irrita-se com o Coronel Lula de Holanda, dono das terras em que mora, e que sempre vê cruzando a estrada em seu cabriolé, sem jamais parar para cumprimentá-lo.
Vai adiando, portanto, atender ao chamado do Coronel para que vá com ele conversar na casa grande. Vemos o lento processo de enlouquecimento de Marta, sua filha, em quem José Amaro bate para tentar curar.
O Mestre recebe uma encomenda de compras de Antônio Silvino e sente-se muito orgulhoso em poder ajudá-lo. Seu caráter fechado e ranzinza vale-lhe a fama de se transformar em "lobisomem", e as pessoas temem encontrar com ele à noite. Por fim, tem que mandar a filha para o hospício em Recife e acaba por atender ao chamado do coronel Lula, que lhe ordena que se retire de suas terras.
No início da segunda parte do livro, temos uma regressão temporal, com o narrador retornando a 1850 ao contar a fundação do engenho Santa Fé pelo Capitão Tomás Cabral de Melo. Mudando-se para a região antes de 1848, compra as terras e funda o engenho que acaba por fazer prosperar. Casa sua filha Amélia com Lula Chacon de Holanda, seu primo, que pouco interesse ou aptidão tem para dirigir o engenho. Adoentado, deixa sua mulher, D. Mariquinha, dirigir os negócios.
Quando morre, Lula entra em disputa com a sogra e acaba por tomar-lhe as terras e o poder. Castigando os escravos com requintes de crueldade, andando com seu cabriolé para cima e para baixo, Seu Lula vai se afastando cada vez mais do povo de Pilar e seu engenho entra em total decadência quando vem a Abolição e seus escravos debandam. Autoritário, impede os homens de se aproximarem da filha.
Epilético, tem um ataque na igreja e passa a se dedicar com fervor à religião. Empobrecido, gasta até as últimas moedas de ouro que lhe deixou o sogro. Sente uma inveja enorme de seu vizinho José Paulino e de seu engenho Santa Rosa e despreza o espírito quixotesco de Vitorino Carneiro da Cunha. Esta parte se encerra com a frase melancólica: "Acabara-se o Santa Fé".
Na terceira e última parte do romance predomina a ação. O capitão Antônio Silvino invade a cidade do Pilar, saqueia as casas e lojas. Invade o engenho Santa Fé, ameaça os moradores em busca do ouro escondido. Tentando defender o engenho, Vitorino é agredido e só a intervenção de José Paulino faz com que os cangaceiros desistam.
Vitorino apanha também da polícia, José Amaro e seus companheiros são presos e agredidos. No final, após serem libertados, Vitorino e o mestre José Amaro seguem rumos diferentes. O primeiro pensa em influir politicamente na região. O segundo, abandonado pela mulher, com a filha louca e expulso de sua casa, acaba por cometer o suicídio, enquanto o cabriolé de Lula passa pela estrada e o Santa Fé virou "engenho de fogo morto".

ESTÉTICA

Tendo criado seu universo ficcional mais com base na memória que na fantasia (sobretudo os romances do ciclo da cana-de-açúcar) e tendo falhado quando buscou inspiração em temas citadinos e complexos (Eurídice, José Lins do Rego alcançou o equilíbrio das obras-primas em Fogo Morto. Se a edificação de personagens “vivas”, verossimilhantes, constitui um dos escopos fundamentais de arte narrativa, Fogo Morto logra-o de modo indiscutível. Com isso, José Lins realizava o ideal inerente a todo escritor regionalista: entrever nos quadrantes específicos de uma área geográfica e de uma dada situação moral, características de universalidade e perenidade. Desse modo, à semelhança da dupla cervantina, que escapou do condicionamento ibérico para a simbolização de tendências básicas do Homem, o Capitão Vitorino ultrapassa as barreiras do sertão e identifica-se com todos os homens que batalham genuinamente por uma causa altruística, acima das diferenças ideológicas ou sociais. [1]


[1] MOISÉS, Massaud. A Literatura através dos textos. 24ª ed. CULTRIX. São Paulo, 2004.

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