terça-feira, 5 de abril de 2011

JORGE AMADO


Nasceu a 10 de Agosto de 1912, na fazenda Auricídia (Ferradas, hoje Itabuna, Bahia). Após o curso primário em Ilhéus, realiza estudos secundários em Salvador, numa altura em que sente o despontar da vocação literária. No Rio de Janeiro, para onde se transfere em 1913, forma-se em Direito e entra a colaborar na imprensa, ao mesmo tempo em que participa ativamente da luta política. Detido em 1936-1937, esteve exilado na Argentina (1941-1943), na França, Estados Unidos, URSS, etc. (após 1947). De regresso à Pátria (1952), continua a elaboração de sua obra literária, e em 1961 é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu em Salvador no dia 06 de agosto de 2001.

§        Ficção:

- 1931: O País do Carnaval;
- 1933: Cacau;
- 1934: Suor;
- 1935: Jubiabá;
- 1936: Mar Morto;
- 1937: Capitães da Areia;
- 1943: Terras do Sem-Fim;
- 1944: São Jorge do Ilhéus
- 1946: Seara Vermelha;
- 1954: Os Subterrâneos da Liberdade;
- 1958: Gabriela, Cravo e Canela;
- 1961: Os Velhos Marinheiros;
- 1964: Os pastores da Noite
- 1966: Dona Flor e seus dois Maridos;
- 1970: Tenda dos Milagres;
- 1972: Teresa Batista cansada de Guerra;
- 1977: Tieta do Agreste, Pastora de Cabras, ou A Volta da Filha Pródiga;
- 1979: Farda Fardão Camisola de Dormir;
- 1984: Tocaia Grande: A face obscura;
- 1988: O Sumiço da Santa: Uma história de feitiçaria;
- 1994: A descoberta da América pelos Turcos.

§        Teatro:

- 1947: O amor de Castro Alves (título mudado p/ O Amor do Soldado, na 2ª Ed., 1968).

§        Poesia:

- 1938: A estrada do Mar;
- 1941: Biografia: ABC de Castro Alves;
- 1945: Vida de Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança;
- 1950: Viagens: O Mundo da Paz.

Jubiabá

Publicado no Rio de Janeiro em 1935, gira em torno de Antonio Balduíno e não da personagem-título. O herói, moleque de morro em Salvador, torna-se sucessivamente lutador de boxe, lavrador, artista de circo e operário. Com ele contracenam Jubiabá, pai-de-santo e conselheiro, e Lindinalva, moça branca por quem se apaixona e que mais tarde reencontra nas piores condições, seduzida e abandonada que fora pelo advogado Barreiras.

Jubiabá conta a história do negro Antônio Balduíno, descendente de escravos e nascido e criado no morro do capa-negro, um dos refúgios na periferia de Salvador onde os negros se abrigaram após a abolição da escravatura e a posterior falta de apoio político. Desde pequeno, Balduíno não se identificava com o trabalho que os negros pobres tinham de fazer para sobreviver. Identificou um paralelo bastante interessante entre o trabalhador assalariado do início do século XX e o escravo do final do século XIX.    Para fugir desta vida sem-graça, vida de escravo, sem liberdade, primeiro, quando ainda era pequeno, Balduíno foi morar nas ruas, vivendo de esmolas junto a um grupo de moleques da sua idade. Desde antes desta época Balduíno já tinha uma imensa admiração por Jubiabá, pai-de-santo do morro do capa-negro que Balduíno relacionava a um exemplo de liberdade. Jubiabá era sábio, ajudava o povo negro, e mesmo os brancos iam a sua humilde casa e se ajoelhavam em frente ao preto velho.    Quando ainda era pequeno, Balduíno se convenceu de que teria um ABC em seu nome. Os ABCs são livretos de histórias heróicas, muito populares entre as classes baixas do povo baiano. Inicia a sua carreira rumo ao seu ABC como boxeur: Baldo, o negro, que vence os lutadores locais com golpes vigorosos, e chega a vencer o campeão do Rio de Janeiro. Entretanto, problemas sentimentais lhe faz perder as outras lutas, ser chamado de vendido. Balduíno fica extremamente triste resolve sair da cidade de Salvador, rumo ao interior do estado. Foge com seu amigo da embarcação, passeia pelos portos do recôncavo, aprecia a voz da mulher de seu companheiro e conta com a terna companhia de seu antigo amigo, o Gordo. Nas lavouras de fumo, Balduíno se convence de que o trabalho do pobre é uma nova forma de escravidão. Enquanto os grandes industriais e agricultores, donos das plantações e das fazendas de fumo, consumiam champanhes caros, andavam em carros luxuosos e moravam em mansões, os trabalhadores viviam com um salário de fome, faltava-lhes comida em casa para alimentar sua grande e jovem família. Apesar disso, ainda existia um pouco de felicidade naquele povo, que gostava de dançar e contar causos, duas coisas que o negro Balduíno adorava.
 Entretanto, o grande salto do livro Jubiabá se dá quando Balduíno ganha um filho, e tem que trabalhar para sustentá-lo. O negro havia jurado para si que nunca viveria como os escravos modernos, vendendo a sua vivacidade por um punhado de dinheiro que mal lhe pagaria a comida. Entretanto, com seu filho nos braços e sua eterna amada morta, Balduíno diz que só lhe resta como opção ao trabalho pobre, procurar o caminho de casa se jogando no mar, mas tem um filho para criar e quer que ele tenha uma vida melhor. A morte de um trabalhador, os baixos salários pagos e a deflagração de uma greve entre os trabalhadores dos transportes, da energia e os padeiros, fazem com que Balduíno e os outros estivadores entrassem em greve.
Balduíno se espanta por Jubiabá não conhecer a greve, mas acha que aquilo é a melhor coisa já inventada. São os trabalhadores que movem a economia e que fazem o dinheiro dos ricos, se os pobres trabalhadores não trabalhassem os ricos não ganhariam dinheiro. Se os trabalhadores têm um papel tão importante, deviam se dar conta disso e lutar por mais direitos. O estouro da greve faz Antônio Balduíno se realizar, a luta pelos direitos do povo pobre lhe faz sentir bem e feliz. Sua greve vence. Balduíno agora também é um sábio, um sábio das armas do povo contra a exploração, e Jubiabá, o sábio da religião, o preto velho que ajudava os outros negros, se curva diante de Balduíno, o preto jovem, que está ciente das armas do povo pobre e negro. Assim, Balduíno acha que continua o trabalho de seu maior ídolo, Zumbi dos Palmares. Após o fim da greve na Bahia, Balduíno passa a viajar de porto em porto, apoiando os trabalhadores nas lutas pelos seus direitos. Balduíno é merecedor de um ABC. [1]

ESTÉTICA

A ficção de Jorge Amado tem percorrido duas fases, mais ou menos autônomas, delimitadas por Gabriela, Cavo e Canela. À primeira, caracterizada pelo lirismo e a participação política, pertence Jubiabá. Daí que a tese política de Jubiabá saia prejudicada, muito embora alcançando um equilíbrio nem sempre visível nas obras da mesma fase: apesar de a evolução de Baldo se processar rumo de uma ascendente conscientização política, percebe-se que sua coerência se estriba num a priori que faz pensar logo no romance naturalista à Zola. Claro que, na interpretação global de Jubiabá, outros vários elementos devem ser levados em conta, mas também, sem as ponderações sugeridas pelos fragmentos escolhidos, toda a conclusão final estaria comprometida. Resta uma palavra acerca da linguagem para completar o quadro e compreender-se o duradouro êxito de Jorge Amado; fácil, espontânea, aparentemente sem maior elaboração, comunicando-se rápido com o leitor ainda o menos dotado ou menos exigente.

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