terça-feira, 5 de abril de 2011

GUILHERME DE ALMEIDA

Guilherme de Andrade e Almeida (Campinas, 1890 – São Paulo, 1969). Concluiu o curso de Direito em 1912, na Universidade de São Paulo. Estudou também jornalismo literário, exerceu a advocacia, participou da Semana de Arte Moderna. Fez várias conferências sobre literatura modernista, e combateu na Revolução Constitucionalista de 1932. Foi exilado, e ao voltar ao Brasil, dedicou-se a fazer traduções.

§        Obra poética:

- 1917: Nós
- 1919: A Dança das Horas; Messidor
- 1920: Livro de Horas de Sóror Dolorosa
- 1922: Era uma vez...
- 1924: A Frauta que eu perdi
- 1925: Meu; Encantamento; A flor que foi um homem; Raça
- 1926: Sherazade
- 1929: Simplicidade
- 1931: Cartas à minha noiva; Você
- 1939: Acaso
- 1941: Cartas do meu amor
- 1944: Tempo
- 1947: Poesia Vária
- 1955: Toda Poesia (7 volumes)
- 1956: Camoniana
- 1957: Pequeno Cancioneiro
- 1963: A Rua

§        Prosa:

- 1924: Natalika
- 1926: O Sentimento Nacionalista na Poesia Brasileira e Ritmo Elemento de Expressão
- 1932: Nossa Bandeira e a Resistência Paulista
- 1933: O Meu Portugal

§        Traduções

- 1932: Eu e você (Paul Géraldy)
- 1936: Poetas da França; Suíte Brasileira (Luc Durtain)
- 1939: O Jardineiro (Tagore)
- 1943: O Gitanjali (Tagore); O Amor de Bilitis (Pierre Louys)
- 1944: Flores das Flores do Mal (Baudelaire)
- 1950: Entre Quatro Paredes (Sartre)
- 1952: Antígona (Sófocles)

Balada do solitário

Edifiquei certo castelo
por uma esplêndida manhã:
brincava o sol, quente e amarelo,
numa alegria incauta e sã.
E eu quis fazer, ó louco anelo!
desse palácio encantador
o ninho rico, mas singelo,
do teu, do meu, do nosso amor.

Por isso, em vez do som do duelo
tinindo em luta heróica e vã,
fiz soluçar um "ritornello"
em cada ameia ou barbacã...
Depois, tomando o camartelo,
alto esculpi, dominador,
esse brasão suntuoso e belo
do teu, do meu, do nosso amor.

De que serviu? se elo por elo
dessa paixão de alma pagã
rompeste a golpes de cutelo,
ó minha loira castelã?
Hoje estou só, sozinho, e velo
por este imenso corredor
que corre, corre paralelo
ao teu, ao meu, ao nosso amor.

OFERTÓRIO
A ti, Princesa, eu te revelo
esta canção, que um trovador
virá cantar pelo castelo
do teu, do meu, do nosso amor!

ESTÉTICA

A Balada do Solitário, um extraordinário artesão do verso, aqui a explorar modelarmente o esquema da balada, e o poeta do amor, de feição romântica, sentimental, vinculado à tradição lírica portuguesa que recua até a Idade Média trovadoresca. A primeira faceta mostra-nos um poeta-ouvires a experimentar os mais variados recursos formais, desde a balada até o haicai, desde o metro curto e regular ao verso livre. O segundo aspecto revela-nos um acentuado idealismo amoroso, onde não é demais surpreender reminiscências de aristocratismo clássico (“loura, e clara, vagarosa, e bela”). As histórias de  amor, sempre de ligações cortadas a meio ou impossíveis, emanam uma comoção que repele toda inferência filosófica, de premeditado contorno camoniano, inclusive pelo tom sentencioso, ou até certo ponto em “A Visita”, que tem por tema a Morte, ou nos haicais, onde a concisão vocabular acompanha o intuito de condensação moral e filosófica.[1]


[1] MOISÉS, Massaud. A Literatura através dos textos. 24ª ed. CULTRIX. São Paulo, 2004.

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