terça-feira, 5 de abril de 2011

EMILIANO PERNETA

Emiliano David Perneta nasceu no Sítio dos Pinhais, arredores de Curitiba (Paraná), a 3 de janeiro de 1866. Filho de um português cristão-novo, após os preparatórios na capital de seu Estado, vem para São Paulo em 1883 e matricula-se na Faculdade de Direito. Conhece anos de febre literária, de boêmia dourada e de atividade abolicionista. Estréia em 1888, com Músicas. Formado, segue para o Rio de Janeiro, onde permanece até 1892, cada vez mais integrado no movimento simbolista. Adoecendo, vai para Minas Gerais, e de lá para Curitiba, em 1895, onde se entrega à advocacia e ao jornalismo, e, mais tarde, ao magistério e ás funções de auditor de guerra. Em 1914, cercado de largo prestígio, revisita o Rio de Janeiro. Faleceu a 19 de janeiro de 1921, em Curitiba.

§        Versos:

- 1899: Carta à Condessa D’Eu;
- 1991: Ilusão;
            - 1934: Setembro (Poemas-Póstumos).
           
§        Prosa:

- 1889: O Inimigo;
- 1902: Floriano;
- 1903: Alegoria;
- 1905: Oração da Estátua do Marechal Floriano Peixoto;
- 1945: Prosas (1º Vol. Das Obras Completas).

§        Teatro:

- 1914: Pena de Talião;
- 1917: Vovozinha (Peça Infantil, ainda inédita);
- 1966: Papilio Innocentia (Poema-libreto calcado em Inocência, de Taunay).

Vencidos

Nós ficaremos, como os menestréis da rua,
Uns infames reais, mendigos por incúria,
Agoureiros da Treva, adivinhos da Lua,
Desferindo ao luar cantigas de penúria?

Nossa cantiga irá conduzir-nos à tua
Maldição, ó Roland? … E, mortos pela injúria,
Mortos, bem mortos, e, mudos, a fronte nua,
Dormiremos ouvindo uma estranha lamúria?

Seja. Os grandes um dia hão de cair de bruço...
Hão de os grandes rolar dos palácios infetos!
E gloria à fome dos vermes concupiscentes!

Embora, nós também, nós, num rouco soluço,
Corda a corda, o violão dos nervos inquietos
Partamos! inquietando as estrelas dormentes!
Ilusão (1911)

ESTÉTICA

O afeiçoamento ao Parnasianismo parece resultar menos da sujeição servil ou condicionada ao padrão literário do momento, que de uma finidade radical entre as postulações doutrinárias e um temperamento em que se funde o meridional e o hebreu, numa síntese verdadeiramente escaldante. Prova-o, como já foi assinalado, a freqüência do soneto, e do soneto esculpido com o rigor de ourivesaria peculiar aos sectários daquele culto poético; e prova-o ainda o eruptivo sensualismo de fauno às soltas, a indicar uma visão estetizante e dionisíaca, de um artista nostálgico do esplendor helênico ou de sua metamorfose renascentista. Pouco a pouco, na razão direta da diminuição de suas forças instintivas, o poeta evolui do terreno para o transcendental. Entretanto, a uma análise mais circunstanciada, percebe-se que o drama original não se resolveu de todo: o poeta vislumbra o repouso cristão, mas tolhido, “até quase à loucura”. Equação binária oposta à fome de Infinito que agita vários poetas do tempo (Cruz e Sousa e Antero de Quental, entre outros), constitui a mola básica de que arranca o vôo amplo da poesia de Emiliano Perneta, para cuja grandeza, no perímetro simbolista, concorreu de modo palpitante seu invulgar talento artesanal. [1]


[1] MOISÉS, Massaud. A Literatura através dos textos. 24ª ed. CULTRIX. São Paulo, 2004.

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