terça-feira, 5 de abril de 2011

AUGUSTO DE LIMA

Nasceu em Congonhas de Sabará (atual Nova Lima), em Minas Gerais. Foi presidente do Estado de Minas, em 1891. Além de político foi jornalista, poeta, magistrado, jurista e professor. Em 1902, concorreu pela primeira vez, à vaga de Francisco de Castro, na Academia Brasileira de Letras. Em 1978, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, obteve o título de bacharel em 1882, tendo, durante o curso, exercido o jornalismo, no qual se mostrou propagandista das idéias da República e da Abolição. Foi nomeado promotor do Termo de Leopoldina, e, em 1885, era juiz municipal. Em 1889, foi nomeado promotor de direito de Conceição da Serra, no Espírito Santo, onde permaneceu até 1890, quando deveria seguir, no mesmo posto, para Dores de Boa Esperança, em Minas, mas logo foi escolhido para chefe de polícia do Estado, em Ouro Preto.



§        Bibliografia:

- 1887: Contemporâneas;
- 1892: Símbolos;
- 1909: Poesias;
- 1930: São Francisco de Assis.

Serenata

Plenilúnio de maio em montanhas de Minas!
canta, ao longe, uma flauta e o violoncelo chora.
Perfuma-se o luar nas flores das campinas.
sutiliza-se o aroma em languidez sonora.

Ao doce encantamento azul das cavatinas,
nessas noites de luz mais belas do que a aurora,
as errantes visões das almas peregrinas
vão voando a cantar pela amplidão afora...

E chora o violoncelo e a flauta, ao longe, canta.
Das montanhas, cantando, a névoa se levanta,
banhada de luar, de sonhos, de harmonia.

Com profano rumor, porém, desponta o dia,
e na última porção de névoa transparente
a flauta e o violoncelo expiram lentamente.[1]
ESTÉTICA

Poeta inconfundível e dos mais inspirados de nossas letras, Augusto dos Anjos embriaga e perturba. É quem num caldeamento heteróclito, nele desembocam alguns dos principais veios filosóficos, científicos e estéticos que percorrem a literatura européia, e a brasileira, no transcurso do século XIX. À primeira, foi buscar o exemplo de um Baudelaire e sua poesia da decomposição; de um Cesário Verde e sua poesia do cotidiano urbano e expressionista; de um Schopenhauer e sua filosofia da Dor e da Vontade; de um Hegel e sua filosofia dialética e idealista; dos naturalistas, como Darwin, Haeckel e outros, e sua teoria evolucionista. Dentre os nossos, recebeu o impacto da poesia científica, da parnasiana, e de Cruz e Sousa. Toda essa massa de informações, recebida pela mundividência de Augusto dos Anjos em razão de uma íntima afinidade eletiva, e assimilada às matrizes próprias do poeta, tem dificultado seu enquadramento histórico-estético. Parnasiano? Simbolista? Considerando que culto da forma seguido pelos parnasianos integrou o programa de arte preconizado pelo Simbolismo, pode-se dizer que seu lugar mais preciso é entre os partidários da última tendência. O emprego de palavras contundentes, tomadas de empréstimo às ciências, não deve confundir, porquanto o poeta, repudiando-lhes a univocidade originária, desenvolve insuspeitadas conotações no encontro com os demais vocábulos; dir-se-ia que lhes desvenda significados ocultos e profundos, e assim elabora uma obra lírica de elevado quilate. Poesia de um solipsista torturado, a escavar masoquistamente o mais secreto de seu ser biólogo e metafísico, expressa numa linguagem sincopada, agressiva e máscula, poesia madura e niilista, da melhor que tem produzido nossa literatura.


[1] Disponível em:  www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/augusto_de_lima.html

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