terça-feira, 5 de abril de 2011

CASSIANO RICARDO LEITE

 Cassiano Ricardo Leite (São José dos Campos, 1895 – Rio de Janeiro, 1974). Iniciou os estudos de Direito na Universidade de São Paulo, concluindo-os no Rio de Janeiro, em 1917. Atuou como jornalista e poeta. Após concluir o curso de Direito, retornou a São Paulo, onde participou ativamente do movimento da reforma literária, com os grupos “Verde e Amarelo” e “Anta”, juntamente a Plínio Salgado, Raul Bopp e Menotti Del Picchia. Com este último, fundou em 1937 “A Bandeira”, movimento político contra o Integralismo. Nessa mesma época, dirigiu o jornal O Anhangüera. Trabalhou como redator no Correio Paulistano, como diretor d’A Manhã, do Rio de Janeiro, e foi criador das revistas Novíssima, Planalto e Invenção. Foi por várias vezes presidente do Clube da Poesia, em São Paulo, e chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris.

§        Obra poética:

- 1915: Dentro da noite
- 1917: Evangelho de Pan
- 1920: Jardim das Hespérides
- 1924: A mentirosa de olhos verdes
- 1926: Vamos caçar papagaios
- 1927: Borrões de verde e amarelo
- 1928: Martim Cererê
- 1931: Deixa estar, jacaré
- 1930: Canções da minha ternura
- 1940: Marcha para Oeste
- 1943: O sangue das horas
- 1947: Um dia depois do outro
- 1950: Poemas murais; A face perdida
- 1956: O arranha-céu de vidro; João Torto e a fábula
- 1957: Poesias completas
- 1960: Montanha russa; A difícil manhã
- 1964: Jeremias sem-chorar
- 1971: Os sobreviventes

§        Ensaios:

- 1936: O Brasil no original
- 1938: O negro da bandeira
- 1938: A Academia e a poesia moderna
- 1940: Marcha para Oeste
- 1953: A poesia na técnica do romance
- 1954: O tratado de Petrópolis
- 1959: Pequeno ensaio de bandeirologia
- 1962: 22 e a poesia de hoje
- 1964: Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda

Metamorfose

Meu avô foi buscar prata
mas a prata virou índio.

Meu avô foi buscar índio
mas o índio virou ouro.

Meu avô foi buscar ouro
mas o ouro virou terra.

Meu avô foi buscar terra
e a terra virou fronteira.

Meu avô, ainda intrigado,
foi modelar a fronteira:

E o Brasil tomou a forma de harpa.

ESTÉTICA

Produto de uma sensibilidade aberta aos quatro ventos, a poesia de Cassiano Ricardo apresenta n faces, quer do ângulo formal, quer temático, e uma evolução que, em vez de processar-se retilineamente, avança por ondas, em meio às quais refluem conquistas anteriores deixadas de parte. Não obstante, é possível estabelecer, com relativa aproximação, os estádios capitais da história desse fazer poético que não se esgotou nas facetas aqui divisadas. Segue-se-lhe a fase verde-amarela, correspondente ao instante em que a atenção se volta francamente para os temas nacionais e primitivos (“Metamorfose”).
Observe-se que a poesia de Cassiano Ricardo, nessa fase como nas demais, não atinge a abstração pura, uma vez que se debruça, embora interrogativamente, sobre o real físico. Entretanto, é da congruência entre dois planos que nasce o lirismo de alta tensão que torna a obra do poeta paulista uma das mais ricas e valiosas de sua geração. [1]


[1] MOISÉS, Massaud. A Literatura através dos textos. 24ª ed. CULTRIX. São Paulo, 2004.

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